Não importa a palavra, esta corriqueira.
Quero é o esplêndido caos de onde emerge
a sintaxe,
os sítios escuros onde nasce o ‘de’, o
‘aliás’,
o ‘o’, o ‘porém’ e o ‘que, esta
incompreensível
muleta que me apóia.
Quem entender a linguagem entende Deus...
(Antes do nome. Adélia Prado. Bagagem, p. 20)
Antes, um pouco de poesia - para rememorar o
início do nosso semestre, e para aplainar as veredas e conquistar este espaço/caos
aos poucos. Mas, os sítios escuros nos desafiam.
O
PósPsiquê é um grupo formado de pessoas que vem de todos os lados e períodos. A
diversidade nos compõe e compõe o nosso grupo por várias razões – somos de
diferentes origens de classe, de geografia, de histórias e experiências de
vida, de gênero, de etnia, temos deficiências – e entre elas uma é especial – a
deficiência visual. Estas diferenças nos inspiram questionamentos sobre a
formação que teremos, se conseguiremos atender não só a demanda muitas vezes
vista como generalizada e uniforme, como se todos os sofrimentos ditos
psíquicos tivessem uma mesma origem e como se esta origem fosse apenas
interna/intrapsíquica. E já que a diferença e a pluralidade se reuniram em um
só grupo, nada melhor do que emergir um nome e um tema que perguntam sobre o
que vem além – além da psique e para além da psicologia que hora conhecemos.
O curta
PROFISSÕES DO FUTURO – produzido por docentes UFMG, organizado por Carlos
Brandão, nos ajudou a expressar esta questão e encontrar o nome - nomear o
grupo e definir o nosso tema. Afinal, não se falou sobre a psicologia como a
profissão do futuro, mas os prognósticos sobre os sofrimentos que afetarão a
humanidade daqui a 10-20-30 anos revelem que nesta área teremos muito trabalho.
Os estudos sobre a depressão, por exemplo, apontam dados nada animadores na
medida em que este sofrimento ainda se aprofundará nas próximas décadas.
Por
inspiração do curta definimos como o nosso tema: As psicologias do futuro, e o nome do grupo: PósPsiquê. Assim mesmo: com maiúsculas e acentos. Algo pós... pós o
que? A nossa intuição e hipótese é vasculhar... perscrutar... matutar... sobre
as demandas da psicologia do futuro, uma psicologia reflexiva. Dependendo das
demandas devemos chegar a uma formação adequada e a um profissional do campo da
“psique”, obviamente preparado para tal por uma universidade atenta a estas
demandas. Afinal, qual será a profissional/o profissional da psicologia do
futuro ou o campo futuro da psicologia. Aliás, será que com isso não chegaremos
ao que já é a demanda do presente? Isto é uma boa hipótese. O mapeamento do
campo certamente nos revelará o muito que já existe. A criatividade visionária das professoras e
dos professores que falaram no curta das profissões do futuro, e sua ênfase na
engenharia de informação e tecnologia nos levaram a pensar que o psicólogo do
futuro deveria ser algo como um psicotecnólogo (?).
Enfim,
temos muito a pensar no que diz respeito à formação em nossa área. Os textos
indicados para as aulas se ocupam bem desta questão da formação. Mas, em princípio,
se quisermos tirar algumas lições e inspirações no que foi dito no curta já
teremos indicativos de um perfil de profissional do campo da psicologia:
Do bibliotecário cibernético podemos
apreender que o profissional do futuro deve ter vocações como: capacidade de
lidar com a tecnologia da informática, perfil de administrar, gerenciar, com uma
certa erudição, cultura e sensibilidade;
Da alquimista: que é importante pensar a
partir de vários campos do conhecimento e produzir novidade a partir disso. Uma
engenharia da imaginação: formação sólida em vários campos do conhecimento,
capaz de pesquisar e articular aquilo que existe de novo em vários campos do
conhecimento.
Do meio ambiente natural e da ecologia vem um
desafio e uma demanda de uma nova formação que esteja atenta para a
responsabilidade humana e a construção de uma nova relação com o meio ambiente
natural e social, o que implica o cuidado e a gestão da diversidade cultural.
Trata-se de preservar o ambiente e preservar a sociedade, de justiça social e
justiça ambiental. Há demanda de uma nova profissão: alguém que enfrente as
questões ambientais que discuta a questão ambiental e social, um cientista
sócio-ambiental. Lembre-se aqui que a psicologia ambiental já existe como campo
de estudos e intervenção.
Da genética – a preocupação com a criação de
medicamentos que melhorem a qualidade de vida das pessoas.
Da
biociências e biotecnologia a atenção aos nanomecanismos que poderão se
injetados no corpo humano; da biologia cintética a criação de novas formas de
vida e a manipulação genética, criação de novos códigos genéticos e novas
formas devida. O papel da psicologia e sua postura diante das consequências
destas novidades e como estas questões afetarão a vida humana será crucial aqui.
Na
conversa do grupo após assistir o curta avaliamos algumas questões: nas
profissões do futuro a formação deve partir de vários campos de conhecimentos.
Falou-se muito em pesquisa de laboratório. Faltou falar sobre a questão social,
humana e política. O cuidado e o gerenciamento das relações humanas, conflitos,
violência, sociedade, justiça. A formação deve ser cada vez mais plural – não
somente específica da área e de pessoas individuais que estudam a sua área para
que a demanda do futuro seja contemplada. Para tal precisamos de Universidades
que propõe novos currículos onde a formação é interdisciplinar – inter-áreas,
não separada por cursos específicos. Por exemplo, como mudar a relação entre
profissionais de psicologia, medicina, enfermagem, ciências sociais,
assistência social, se o formato da universidade não ajuda na formação que o
futuro exige – de profissionais com uma formação multiprofissional. Os
entrevistados falaram de um super-ser-humano que deve dominar tudo de tudo ou
tudo de muito pouco – uma superespecialização – que não toma em conta o
contexto mais amplo e as implicações éticas. Poderíamos pensar mais em
profissionais que sim tenham conhecimentos plurais, criar, articular
conhecimento, mas que o trabalho seja de grupos de gerenciamento e pesquisa
multi e interdisciplinar. A disputa do espaço não se dará mais pelo nome da
profissão, mas pelas habilidades. A diferença entre mundo de trabalho e mercado
de trabalho: o papel da universidade é formar profissionais para o mundo do
trabalho, mas a demanda do mercado muitas vezes é outra. A universidade não
forma para o mercado de trabalho.
Então: qual é o perfil da psicóloga e do psicólogo
do futuro? Como será a psicologia do
futuro? Esta questão continuaremos a responder nas próximas postagens e com
os palpites de toda a turma e de todos os grupos – blogueiras e blogueiros. De
todo modo, pensar a formação não apenas voltada para um mercado que necessita
de tecnólogos, precisamos pensar numa psicologia que pensa o ser humano e a
humanização do mundo e uma psicologia mais preventiva, que ajude a pensar a
realidade humana não apenas para intervir no sofrimento já causado, mas na
prevenção dele.
Sigamos o conselho da
Sociedade dos Poetas Mortos: Carpe Diem!
Grupo PósPsiquê
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