domingo, 12 de setembro de 2010

As Psicologias do Futuro


Não importa a palavra, esta corriqueira.
Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,
os sítios escuros onde nasce o ‘de’, o ‘aliás’,
o ‘o’, o ‘porém’ e o ‘que, esta incompreensível
muleta que me apóia.
Quem entender a linguagem entende Deus...
 (Antes do nome. Adélia Prado. Bagagem, p. 20)


Antes, um pouco de poesia - para rememorar o início do nosso semestre, e para aplainar as veredas e conquistar este espaço/caos aos poucos. Mas, os sítios escuros nos desafiam.


O PósPsiquê é um grupo formado de pessoas que vem de todos os lados e períodos. A diversidade nos compõe e compõe o nosso grupo por várias razões – somos de diferentes origens de classe, de geografia, de histórias e experiências de vida, de gênero, de etnia, temos deficiências – e entre elas uma é especial – a deficiência visual. Estas diferenças nos inspiram questionamentos sobre a formação que teremos, se conseguiremos atender não só a demanda muitas vezes vista como generalizada e uniforme, como se todos os sofrimentos ditos psíquicos tivessem uma mesma origem e como se esta origem fosse apenas interna/intrapsíquica. E já que a diferença e a pluralidade se reuniram em um só grupo, nada melhor do que emergir um nome e um tema que perguntam sobre o que vem além – além da psique e para além da psicologia que hora conhecemos.
O curta PROFISSÕES DO FUTURO – produzido por docentes UFMG, organizado por Carlos Brandão, nos ajudou a expressar esta questão e encontrar o nome - nomear o grupo e definir o nosso tema. Afinal, não se falou sobre a psicologia como a profissão do futuro, mas os prognósticos sobre os sofrimentos que afetarão a humanidade daqui a 10-20-30 anos revelem que nesta área teremos muito trabalho. Os estudos sobre a depressão, por exemplo, apontam dados nada animadores na medida em que este sofrimento ainda se aprofundará nas próximas décadas.
Por inspiração do curta definimos como o nosso tema: As psicologias do futuro, e o nome do grupo: PósPsiquê. Assim mesmo: com maiúsculas e acentos. Algo pós... pós o que? A nossa intuição e hipótese é vasculhar... perscrutar... matutar... sobre as demandas da psicologia do futuro, uma psicologia reflexiva. Dependendo das demandas devemos chegar a uma formação adequada e a um profissional do campo da “psique”, obviamente preparado para tal por uma universidade atenta a estas demandas. Afinal, qual será a profissional/o profissional da psicologia do futuro ou o campo futuro da psicologia. Aliás, será que com isso não chegaremos ao que já é a demanda do presente? Isto é uma boa hipótese. O mapeamento do campo certamente nos revelará o muito que já existe.  A criatividade visionária das professoras e dos professores que falaram no curta das profissões do futuro, e sua ênfase na engenharia de informação e tecnologia nos levaram a pensar que o psicólogo do futuro deveria ser algo como um psicotecnólogo (?).
Enfim, temos muito a pensar no que diz respeito à formação em nossa área. Os textos indicados para as aulas se ocupam bem desta questão da formação. Mas, em princípio, se quisermos tirar algumas lições e inspirações no que foi dito no curta já teremos indicativos de um perfil de profissional do campo da psicologia:
Do bibliotecário cibernético podemos apreender que o profissional do futuro deve ter vocações como: capacidade de lidar com a tecnologia da informática, perfil de administrar, gerenciar, com uma certa erudição, cultura e sensibilidade;
Da alquimista: que é importante pensar a partir de vários campos do conhecimento e produzir novidade a partir disso. Uma engenharia da imaginação: formação sólida em vários campos do conhecimento, capaz de pesquisar e articular aquilo que existe de novo em vários campos do conhecimento.
Do meio ambiente natural e da ecologia vem um desafio e uma demanda de uma nova formação que esteja atenta para a responsabilidade humana e a construção de uma nova relação com o meio ambiente natural e social, o que implica o cuidado e a gestão da diversidade cultural. Trata-se de preservar o ambiente e preservar a sociedade, de justiça social e justiça ambiental. Há demanda de uma nova profissão: alguém que enfrente as questões ambientais que discuta a questão ambiental e social, um cientista sócio-ambiental. Lembre-se aqui que a psicologia ambiental já existe como campo de estudos e intervenção.
Da genética – a preocupação com a criação de medicamentos que melhorem a qualidade de vida das pessoas.
Da biociências e biotecnologia a atenção aos nanomecanismos que poderão se injetados no corpo humano; da biologia cintética a criação de novas formas de vida e a manipulação genética, criação de novos códigos genéticos e novas formas devida. O papel da psicologia e sua postura diante das consequências destas novidades e como estas questões afetarão a vida humana será crucial aqui.
Na conversa do grupo após assistir o curta avaliamos algumas questões: nas profissões do futuro a formação deve partir de vários campos de conhecimentos. Falou-se muito em pesquisa de laboratório. Faltou falar sobre a questão social, humana e política. O cuidado e o gerenciamento das relações humanas, conflitos, violência, sociedade, justiça. A formação deve ser cada vez mais plural – não somente específica da área e de pessoas individuais que estudam a sua área para que a demanda do futuro seja contemplada. Para tal precisamos de Universidades que propõe novos currículos onde a formação é interdisciplinar – inter-áreas, não separada por cursos específicos. Por exemplo, como mudar a relação entre profissionais de psicologia, medicina, enfermagem, ciências sociais, assistência social, se o formato da universidade não ajuda na formação que o futuro exige – de profissionais com uma formação multiprofissional. Os entrevistados falaram de um super-ser-humano que deve dominar tudo de tudo ou tudo de muito pouco – uma superespecialização – que não toma em conta o contexto mais amplo e as implicações éticas. Poderíamos pensar mais em profissionais que sim tenham conhecimentos plurais, criar, articular conhecimento, mas que o trabalho seja de grupos de gerenciamento e pesquisa multi e interdisciplinar. A disputa do espaço não se dará mais pelo nome da profissão, mas pelas habilidades. A diferença entre mundo de trabalho e mercado de trabalho: o papel da universidade é formar profissionais para o mundo do trabalho, mas a demanda do mercado muitas vezes é outra. A universidade não forma para o mercado de trabalho.
Então: qual é o perfil da psicóloga e do psicólogo do futuro? Como será a psicologia do futuro? Esta questão continuaremos a responder nas próximas postagens e com os palpites de toda a turma e de todos os grupos – blogueiras e blogueiros. De todo modo, pensar a formação não apenas voltada para um mercado que necessita de tecnólogos, precisamos pensar numa psicologia que pensa o ser humano e a humanização do mundo e uma psicologia mais preventiva, que ajude a pensar a realidade humana não apenas para intervir no sofrimento já causado, mas na prevenção dele.
Sigamos o conselho da Sociedade dos Poetas Mortos: Carpe Diem!

Grupo PósPsiquê 

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