sábado, 2 de outubro de 2010

Eleições: Direito ao Voto


Nesse contexto atual político que estamos vivenciando, de eleições, nada mais providencial do que dizer algumas palavras a respeito do tema.
É bem verdade que muitos de nós brasileiros estamos desacreditados da política nacional e consequentemente do “direito ao voto”. Muito disso advêm, com certeza desse cenário de escândalos, corrupções que acercam esse meio. Freud, Jung, Skinner e outros teóricos ligados a psicologia poderiam explicar o comportamento corrupto dos políticos, mas não vamos ater a esse ponto.
Vamos aqui, colocar algumas questões jurídicas, fazendo todo um questionamento crítico psicológico do direito ao voto.
No título I, referente aos direitos fundamentais, a Constituição Federal consagra O Estado Democrático de Direito. Sendo que na democracia, há a participação da população na vida política e no Estado de Direito, todos devem obedecer à ordem; ao direito vigente.
Já o capítulo IV referente aos direitos políticos da Constituição, consagra que a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos. Assim, o direito de voto é o instrumento de exercício do direito de sufrágio. Sendo ainda, que o voto é um direito público subjetivo, sem deixar de ser uma função política e social de soberania popular no governo democrático. Vê-se com isso, que um dos pontos cruciais para a prática da democracia é a prática eleitoral. O direito ao voto é uma forma eficaz de manifestação da vontade do cidadão.
Refletindo sobre esse direito ao voto, questionamos, o quanto esse direito é livre. Numa perspectiva sócio-histórica e estruturalista construtivista, pensando em alguns autores como Vygotsky e Bourdieu podemos ver que nós indivíduos, não somos donos de nós mesmos e nem do nosso destino, temos uma liberdade de votar, mas dentro de um contexto histórico cultural, que vai nos orientar e influenciar o nosso voto. Assim, seguindo Bourdieu, nós não só incorporamos a estrutura social como a produzimos, legitimamos e a reproduzimos, aceitamos o que a sociedade nos coloca como uma verdade, mesmo que geradora de injustiças.  Poderia dizer que o meu capital social, econômico e cultural, vai me orientar a votar em determinado candidato e não em outro.
Nos anos 60, autores afirmavam existir um voto de classe que expressava interesses próprios e materiais, que era resultado dos seus relacionamentos sociais. Há algum tempo dizem entrar um novo contexto, não só ligada a competição de classe, típica do capitalismo industrial, mas seria um novo cenário onde se destacariam divisões ligadas ao gênero, à identidade e aos valores.
Apesar desses autores afirmarem essa mudança de cenário, a política e o nosso direito ao voto vai estar condicionado à “violência simbólica”, ou seja, a essa coação implícita que nos faz posicionar em determinado espaço social, econômico e cultural, seguindo padrões do discurso dominante, concluindo daí que o nosso direito de votar é livre sim, mas dentro de determinados parâmetros implicitamente impostos pela sociedade.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010


Humanização em Saúde

No dia 17/setembro na PUC – Minas campus Coração Eucarístico aconteceu o Saúde em roda, com o tema Humanização em Saúde tendo como moderador- Eduardo Passos- consultor do Ministério da Saúde para a implantação da política nacional de Humanização do SUS (2003-2008), com grande experiência na área de Psicologia, atuando principalmente nos seguintes temas: políticas públicas de saúde, cognição e subjetividade.

Entendemos como sendo importante compartilhar alguns relatos de Passos, tendo em vista uma produção de conhecimento a partir de um alargamento no olhar, ampliação essa que nos permitiu escutar e dialogar com outros cursos sobre as possibilidades de humanização da saúde na prática.

Segundo Passos, fazer humanização é fazer práticas inclusivas, praticas essas que são opostas ao autoritarismo que tem imperado como sendo o resultado de um centro de organização do estado e da cultura.

Inicialmente a idéia foi um despertar para a necessidade de um diálogo entre as varias atuações profissionais do campo da saúde e seus usuários. Sendo assim Passos critica uma prática de “centralização do poder”, demonstrando uma necessidade de se estabelecer um sistema de redes, proporcionando assim o método de inclusão e conseqüentemente uma humanização.

Ele demonstra a necessidade de uma prática de transversalização, que nada mais é do que criar um reposicionamento subjetivo, que são práticas de inclusão a partir da mistura dos diferentes sujeitos. Isso fica evidente na em sua declaração: ”Os usuários é quem sabe mais deles”.

Diante das discussões que tem sido feitas frentes a necessidade de equipes multiprofissional, e após essa roda de saúde, fomos desafiados a uma maior exploração às expressões que inicialmente nos pareceu nova, mas que acreditamos fazerem parte do “dicionário” que define a complexibilidade que perpassa pela junção de Gestão e Cuidado. Entendemos como sendo:

·         Descentralização do poder = escutar os demais, abolindo a prática mecanizada e atitudes pretensiosas frente à atuação de outros profissionais, tendo assim como prioridade a saúde do sujeito.
·         Reposicionamento subjetivo = Seria uma “mistura”, que proporcionaria uma inclusão a partir de uma escuta do que o sujeito tem a dizer sobre si,     e uma conversa multiprofissional na tentativa de uma melhor compreensão desse sujeito como um todo.  .
·         Implantação de um sistema de redes e extermínio da prática de autoritarismo = Conscientização de que todos podem contribuir para a construção de um saber e uma humanização que conseqüentemente irá promover saúde.     

Todas essas atitudes vão dizer de uma prática de Gestão e Cuidado frente às necessidades do sujeito, acreditamos ser possível essa conscientização, mesmo que pareça estar distante sua execução em grande parte dos contextos que deveriam promover saúde, no entanto são necessárias essas atitudes para que as equipes multiprofissionais possam propagar a humanização da saúde atingindo os níveis físicos e psíquicos do ser humano.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Desejo e Consumo

Boa parte dos dramas existenciais e da conquista de bem-estar psicológico pode ser relacionada ao modo como lidamos com os desejos. Há quem pregue a completa renúncia ao desejo. Afirmam que nele estaria a toda fonte da infelicidade. Neste caso, em tese, só desejamos aquilo que não possuímos. Logo, ao obter o que desejávamos, já não o queremos mais. O que nos incluiria em um ciclo de perpétua geração da insatisfação. Esta só existe se há desejo. Se há insatisfação, infelicidade, elas geralmente existem porque algum desejo não foi satisfeito.                                                                
A felicidade, ou a alegria, seu representante elementar, são frutos da realização de desejo. Se alguém está alegre ou feliz é porque algum desejo foi ou está sendo satisfeito. Portanto, aqui, a afirmação de que renúncia ao desejo seria um caminho para a felicidade é insustentável.                         
Segundo Luc Ferry (2007), a sabedoria antiga, por meio da escola estóica, nos ensina muito acerca da temperança e da resignação: desejar somente aquilo que dependa diretamente de nós; jamais despender energia e esforços para com o que é improvável; e, no eixo do tempo, não lamentar passado nem esperar nada do futuro. Ao invés de esperar, agir, e no agora. Há um foco na ação e no presente. Os estóicos concebem a esperança e a nostalgia como verdadeiros atrasos de vida. Devem ser expurgados de nossa existência. “Não chorar o leite derramado"; “não criar expectativas demais”; “não viver em função de passado nem de futuro”: é mais ou menos nestes termos que estas questões são expressas pelo senso-comum.                                                                                            
Há distinções e sutilezas existentes entre os conceitos de desejo, vontade, e esperança, por exemplo, que ser realizadas. Segundo Comte-Sponville, (2005), pode-se desejar o que depende de nós (vontade) e o que não, de nós (esperança). Diz que toda esperança é um desejo, mas que nem todo desejo é uma esperança. Pois é possível desejar o que já possuímos, o que é imediatamente possível.                         
Seria tirar a vida do condicional, do “como eu seria feliz se isso ou se aquilo”. É fazer o que se tem vontade, o que se gosta, aqui e agora. O que se pode fazer e não o que se poderia fazer.                                           

domingo, 26 de setembro de 2010

Psicologias, psicólogas e psicólogos do futuro


   Análise institucional: o mundo do trabalho e da saúde

Reverberando, remoendo, repensando através das trajetórias e provocações que vem dos textos.
Adeus ao trabalho – texto de Ricardo Antunes – nos interpela e nos faz pensar sobre a Psicologia do trabalho. Afinal, trabalhadoras e trabalhadores vítimas do mundo cão do trabalho fordista, taylorista e toyotista, são extensões de máquinas, e escravos pós-modernos, assalariados e iludidos pela ideologia do mercado consumista. Trabalho parcial, trabalho temporário, precário, terceirizado: subproletarização e exploração das mulheres com funções e salários que são uma ofensa à dignidade humana – com o argumento subjetivo de sua “condição feminina”. O trabalho feminino gratuito é ainda a face mais desumana deste contexto, e é a grande base e força de trabalho que sustenta o sistema capitalista. Estima-se que o trabalho doméstico não-remunerado represente cerca de 30% a 40% da riqueza gerada nos países industrializados. É um verdadeiro exército de trabalhadoras que prestam serviço gratuito, sustentando a população que tem empregos remunerados. (Anthony Giddens, Sociologia). A qualidade do trabalho, a satisfação, o desemprego, o subemprego e o que nem é considerado trabalho ou emprego – como no caso das trabalhadoras do serviço da casa/donas de casa, as altíssimas exigências com relação à qualificação para cargos, que mesmo assim mantêm baixos salários, tudo isso forma um quadro complexo que afeta a vida de milhões de pessoas e leva a quadros de adoecimento psíquico, social, físico e espiritual.
Mary Spink, em um texto sobre a formação do psicólogo para atuação em instituições de saúde, faz uma interessante reflexão sobre análise institucional. Em suas considerações afirma que o profissional em psicologia pode tanto atuar em uma instituição para simplesmente manter a ordem institucional, ficando alheio à compreensão dos processos de institucionalização. No caso de instituições de saúde, a psicóloga pode atuar em dois níveis – tomando em conta a instituição como um todo ou com a pessoa que é cliente da instituição.
O campo da análise institucional toma em conta a instituição como totalidade – esta visão contempla a idéia de que ao atores e atrizes institucionais constituem em são constituídos pela teia relacional que se performa neste contexto. Aqui, a análise da instituição como aparelho ideológico e como cultura tem um papel importante.  Não raro, acontece uma simples transferência do modelo clínico – focado no indivíduo e no consultório, onde as regras são ditadas pelo psicólogo – para a instituição. Revela-se aí uma situação acrítica por parte do profissional que acarreta o perigo de que se torne refém da instituição e que se um instrumento pra a manutenção do status quo.
Em suma, Spink chamará a atenção para o tema da alteridade no contexto institucional, o que implica na desconstrução e reconstrução de representações (por exemplo a in/compatibilidade das visões de mundo dos diferentes profissionais que trabalham numa mesma equipe) para chegar a um projeto de trabalho que seja capaz de incorporar a polimorfia e a contradição. (MARY SPINK. A formação do psicólogo para atuação em instituições de saúde)

Póspsiquê