terça-feira, 28 de setembro de 2010

Desejo e Consumo

Boa parte dos dramas existenciais e da conquista de bem-estar psicológico pode ser relacionada ao modo como lidamos com os desejos. Há quem pregue a completa renúncia ao desejo. Afirmam que nele estaria a toda fonte da infelicidade. Neste caso, em tese, só desejamos aquilo que não possuímos. Logo, ao obter o que desejávamos, já não o queremos mais. O que nos incluiria em um ciclo de perpétua geração da insatisfação. Esta só existe se há desejo. Se há insatisfação, infelicidade, elas geralmente existem porque algum desejo não foi satisfeito.                                                                
A felicidade, ou a alegria, seu representante elementar, são frutos da realização de desejo. Se alguém está alegre ou feliz é porque algum desejo foi ou está sendo satisfeito. Portanto, aqui, a afirmação de que renúncia ao desejo seria um caminho para a felicidade é insustentável.                         
Segundo Luc Ferry (2007), a sabedoria antiga, por meio da escola estóica, nos ensina muito acerca da temperança e da resignação: desejar somente aquilo que dependa diretamente de nós; jamais despender energia e esforços para com o que é improvável; e, no eixo do tempo, não lamentar passado nem esperar nada do futuro. Ao invés de esperar, agir, e no agora. Há um foco na ação e no presente. Os estóicos concebem a esperança e a nostalgia como verdadeiros atrasos de vida. Devem ser expurgados de nossa existência. “Não chorar o leite derramado"; “não criar expectativas demais”; “não viver em função de passado nem de futuro”: é mais ou menos nestes termos que estas questões são expressas pelo senso-comum.                                                                                            
Há distinções e sutilezas existentes entre os conceitos de desejo, vontade, e esperança, por exemplo, que ser realizadas. Segundo Comte-Sponville, (2005), pode-se desejar o que depende de nós (vontade) e o que não, de nós (esperança). Diz que toda esperança é um desejo, mas que nem todo desejo é uma esperança. Pois é possível desejar o que já possuímos, o que é imediatamente possível.                         
Seria tirar a vida do condicional, do “como eu seria feliz se isso ou se aquilo”. É fazer o que se tem vontade, o que se gosta, aqui e agora. O que se pode fazer e não o que se poderia fazer.                                           

Um comentário:

  1. O desejo está ligado ao que nos falta, àquilo que nos torna humanos e que impulsiona os nossos projetos de vida. Nesse sentido, somos constituídos também por aquilo que nos falta. Por isso sonhamos, estudamos, trabalhamos, criamos, reinventando o mundo e a nós mesmos cotidianamente.

    Esquizogrupo.

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