Análise institucional: o mundo do trabalho e da saúde
Reverberando,
remoendo, repensando através das trajetórias e
provocações que vem dos textos.
Adeus ao
trabalho – texto de Ricardo Antunes – nos interpela e nos faz pensar sobre a
Psicologia do trabalho. Afinal, trabalhadoras e trabalhadores vítimas do mundo
cão do trabalho fordista, taylorista e toyotista, são extensões de máquinas, e
escravos pós-modernos, assalariados e iludidos pela ideologia do mercado
consumista. Trabalho parcial, trabalho
temporário, precário, terceirizado: subproletarização e exploração das mulheres
com funções e salários que são uma ofensa à dignidade humana – com o argumento
subjetivo de sua “condição feminina”. O trabalho feminino gratuito é ainda a face mais desumana deste contexto, e é a grande
base e força de trabalho que sustenta o sistema capitalista. Estima-se que o trabalho doméstico não-remunerado
represente cerca de 30% a 40% da riqueza gerada nos países industrializados. É
um verdadeiro exército de trabalhadoras que prestam serviço gratuito,
sustentando a população que tem empregos remunerados. (Anthony Giddens, Sociologia). A qualidade do
trabalho, a satisfação, o desemprego, o subemprego e o que nem é considerado
trabalho ou emprego – como no caso das trabalhadoras do serviço da casa/donas
de casa, as altíssimas exigências com relação à qualificação para cargos, que
mesmo assim mantêm baixos salários, tudo isso forma um quadro complexo que
afeta a vida de milhões de pessoas e leva a quadros de adoecimento psíquico,
social, físico e espiritual.
Mary Spink, em um texto sobre a formação do psicólogo para atuação em
instituições de saúde, faz uma interessante reflexão sobre análise
institucional. Em suas considerações afirma que o profissional em psicologia
pode tanto atuar em uma instituição para simplesmente manter a ordem
institucional, ficando alheio à compreensão dos processos de
institucionalização. No caso de instituições de saúde, a psicóloga pode atuar
em dois níveis – tomando em conta a instituição como um todo ou com a pessoa
que é cliente da instituição.
O campo da análise institucional toma em conta a instituição como
totalidade – esta visão contempla a idéia de que ao atores e atrizes
institucionais constituem em são constituídos pela teia relacional que se
performa neste contexto. Aqui, a análise da instituição como aparelho
ideológico e como cultura tem um papel importante. Não raro, acontece uma simples transferência
do modelo clínico – focado no indivíduo e no consultório, onde as regras são
ditadas pelo psicólogo – para a instituição. Revela-se aí uma situação acrítica
por parte do profissional que acarreta o perigo de que se torne refém da
instituição e que se um instrumento pra a manutenção do status quo.
Em suma, Spink chamará a atenção para o tema da alteridade no contexto
institucional, o que implica na desconstrução e reconstrução de representações
(por exemplo a in/compatibilidade das visões de mundo dos diferentes
profissionais que trabalham numa mesma equipe) para chegar a um projeto de
trabalho que seja capaz de incorporar a polimorfia e a contradição. (MARY
SPINK. A formação do psicólogo para atuação em instituições de saúde)
Póspsiquê
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