Boa parte dos dramas
existenciais e da conquista de bem-estar psicológico pode ser relacionada ao
modo como lidamos com os desejos. Há quem pregue a completa renúncia ao desejo.
Afirmam que nele estaria a toda fonte da infelicidade. Neste caso, em tese, só
desejamos aquilo que não possuímos. Logo, ao obter o que desejávamos, já não o
queremos mais. O que nos incluiria em um ciclo de perpétua geração da
insatisfação. Esta só existe se há desejo. Se há insatisfação, infelicidade,
elas geralmente existem porque algum desejo não foi satisfeito.
A
felicidade, ou a alegria, seu representante elementar, são frutos da realização
de desejo. Se alguém está alegre ou feliz é porque algum desejo foi ou está
sendo satisfeito. Portanto, aqui, a afirmação de que renúncia ao desejo seria
um caminho para a felicidade é insustentável.
Segundo
Luc Ferry (2007), a sabedoria antiga, por meio da escola estóica, nos ensina
muito acerca da temperança e da resignação: desejar somente aquilo que dependa
diretamente de nós; jamais despender energia e esforços para com o que é
improvável; e, no eixo do tempo, não lamentar passado nem esperar nada do
futuro. Ao invés de esperar, agir, e no agora. Há um foco na ação e no
presente. Os estóicos concebem a esperança e a nostalgia como verdadeiros
atrasos de vida. Devem ser expurgados de nossa existência. “Não chorar o leite
derramado"; “não criar expectativas demais”; “não viver em função de
passado nem de futuro”: é mais ou menos nestes termos que estas questões são
expressas pelo senso-comum.
Há
distinções e sutilezas existentes entre os conceitos de desejo, vontade, e
esperança, por exemplo, que ser realizadas. Segundo Comte-Sponville, (2005),
pode-se desejar o que depende de nós (vontade) e o que não, de nós (esperança).
Diz que toda esperança é um desejo, mas que nem todo desejo é uma esperança.
Pois é possível desejar o que já possuímos, o que é imediatamente possível.
Seria tirar a vida do condicional,
do “como eu seria feliz se isso ou se aquilo”. É fazer o que se tem vontade, o
que se gosta, aqui e agora. O que se pode fazer e não o que se poderia fazer.
O desejo está ligado ao que nos falta, àquilo que nos torna humanos e que impulsiona os nossos projetos de vida. Nesse sentido, somos constituídos também por aquilo que nos falta. Por isso sonhamos, estudamos, trabalhamos, criamos, reinventando o mundo e a nós mesmos cotidianamente.
ResponderExcluirEsquizogrupo.