terça-feira, 16 de novembro de 2010

A FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA E SEUS NOVOS ARRANJOS


Segundo Uziel (2004), família é um conceito que emerge da relação social e, portanto, acompanha as transformações que ela sofre. Antigamente a família era vinculada ao conceito de casamento. Com a modificação da posição da mulher na sociedade, adquirindo autonomia, as famílias também tomaram novas formas.
Conforme Vaitsman (1994), o surgimento da sociedade industrial moderna, seguido da urbanização e do desenvolvimento científico e tecnológico, contribuiu para uma redefinição das relações de classe, gênero e família. Antes da Revolução Industrial as famílias eram nucleares, patriarcais e sua subsistência advinha de produção própria. Após esta revolução, a família transformou-se em conjugal moderna, cujo sustento agora provinha do trabalho remunerado, conforme o princípio universal de mercado. Essa modernização implicou na divisão sexual do trabalho, levando a sociedade a reorganizar-se.
A família conjugal moderna pode ser definida como uma instituição estruturada sobre uma relação de amor e de contrato, na qual dois indivíduos se relacionam livremente devido a uma escolha pessoal, porém, constrangida sob a égide de uma hierarquia sexual, pois ao homem cabe a vida pública e à mulher, a vida privada. Este modelo entra em crise a partir do momento em que se questiona a divisão sexual do trabalho e finda-se a idéia da dicotomia entre público e privado. As mulheres passam a participar da vida pública, a princípio através das atividades profissionais, se estendendo então à política e movimentos sindicais, aos estudos, à arte e cultura, causando assim uma redefinição da noção de família na contemporaneidade (VAITSMAN, 1994).
A partir da década de 60, com a afirmação da emancipação feminina, o núcleo familiar conhece profundas mudanças, dentre elas o aumento do número de divórcios, de uniões livres, e de recomposições familiares bem como o surgimento de novos rearranjos “[...] o pluralismo familiar é o resultado de uma transformação profunda das relações de gênero e da emergência de um novo equilíbrio entre autonomia individual e pertencimento familiar.”(SINGLY, 2007, p.12).
Singly (2007) afirma que o fator afetivo presente nas relações familiares irá marcar a separação entre o espaço público e o espaço privado (intrafamiliar). Assim, a família contemporânea pode ser considerada basicamente como um “espaço privado” em que os sujeitos buscam viver juntos e desfrutar desta relação. Ao mesmo tempo em que a família contemporânea torna-se privada, também ocorre o movimento para que seja pública. Isso acontece uma vez que as relações familiares não são vividas da mesma forma que antes, não sendo mais tão presente o sistema patriarcal e havendo, aos poucos, a interferência do Estado na convivência familiar, principalmente no que se refere à legalização de relações antes mal vistas: divórcio, reconhecimento das uniões civis homossexuais, dentre outras.
A partir dos anos 80 novos modelos de família começam a emergir de modo mais frequente/visível. Surgem as famílias monoparentais. Conforme Uziel (2004), o vocábulo monoparental foi sugerido por Nadine Lefaucheur e sociólogas feministas que teriam utilizado o termo a fim de valorizar lares chefiados por mulheres (divorciadas, mães solteiras, viúvas) e que puderam constituir suas famílias sem sofrer tanto a pressão que a sociedade antes as imputava. Em decorrência destas mudanças, famílias são compostas e recompostas, uma vez que um dos cônjuges de uma união desfeita passa a viver com outra pessoa, que muitas vezes já possuía outros filhos, modelo que se torna cada vez mais comum. As uniões livres foram crescendo aliadas ao aumento do trabalho assalariado das mulheres. Junto a isso, uma redução considerável nos nascimentos ocorreu, devido ao uso de métodos contraceptivos pelas mulheres, que começam a priorizar o crescimento intelectual e profissional (SINGLY, 2007).

3 comentários:

  1. Nos tempos de hoje podemos perceber as diversas formações familiares. A família nuclear deixou de existir e passou a ser a monoparentais e outras diversas moneclaturas, aquela composta por vários membros de uma mesma família ou apenas parentes mais íntimos . Acreditamos que os diversos tipos de família encontrada na sociedade sem laços de consanguinidade, unidas por laços afetivos independentemente de sua organização, são um espaço inicial que se tem para exercer a cidadania.

    Esquizogrupo.

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  2. A família é realmente um tema muito importante de se abordar, uma vez que é sempre considerado e avaliado na contextualização de um sujeito.
    Sejam laços consangüíneos ou de afeto, são sempre fundamentais na estrutura do indivíduo, na construção da sua subjetividade, dos seus valores e pré-conceitos.
    Muito interessante a forma como o grupo abordou o desenvolvimento das famílias, levantando muitos dados discutidos e ainda em desenvolvimento na Psicologia, originários de novas culturas.

    Grupo Subjetividade

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  3. A família é o primeiro órgão socializador do homem. A Socialização pode ser entendida como o processo de desenvolvimento de hábitos, de habilidades, de valores que são internalizados e compartilhados pelos sujeitos.
    A postagem do Pós-Psiquê é um convite a reflexão do conceito "família", pois esse vem sofrendo transformações ao longo da história.
    Cada vez mais a família nuclear vem sendo substituida por outros modelos - o monoparental é um deles. Porém,faz-se necessário uma reflexão a cerca das implicações de tais mudanças na constituição do sujeito. O que esses "novos arranjos" vão gerar?

    Grupo Psicar

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